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olharevora

Um olhar crítico/construtivo sobre a cidade de Évora

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Um olhar crítico/construtivo sobre a cidade de Évora

Um hotel econochic? Sim, eles existem

05.01.14 | barak
Localizado no interior das muralhas medievais da cidade alentejana, o B&B Évora surpreende pelo bom gosto e conforto.
Anunciei a vários amigos a saída de fim-de-semana. “Vou dormir ao B&B Évora”. Em diferentes circunstâncias, as caretas e as reacções foram unânimes: que ia dormir a um sítio barato e de fraca qualidade... “Não pode ser”, pensei e fui à Internet rever as imagens daquele espaço, que me descansaram q.b. — afinal, “quem vê caras, não vê corações” e o site até pode estar bem feito, o que não significa que o hotel seja tão confortável como as fotografias transmitem.
 
Depois de um dia de trabalho e de correria, foi em pouco mais de uma hora que a auto-estrada me levou de Lisboa a Évora. A entrada na estrada nacional, em direcção ao centro urbano, obriga à redução da velocidade. Para quem conhece, o caminho faz-se quase em piloto-automático, já que o B&B Évora fica situado no centro da cidade, dentro das muralhas, precisamente na Rua do Raimundo. Ou seja, contornada a última rotunda antes da muralha, é mesmo em frente, passa-se a Porta do Raimundo e já se vê o logotipo B&B preso na parede caiada de branco, tão típica do Alentejo. 
 
O estacionamento pode ser feito dentro do hotel, com um custo de cinco euros por dia. Parqueado o carro na noite fria de Évora, entro no lobby branco e acolhedor, com um toque de modernidade nas linhas direitas do balcão de atendimento. A recepção é simpática e eficiente, feita por quem conhece a cidade e sabe dar as melhores indicações.
 
hall e os corredores são forrados com painéis de madeira escura e quente. O branco de algumas das paredes é decorado com quadros de cavalos e cavaleiros. É fácil de adivinhar porquê: crê-se que a grossa parede da fachada frontal do edifício era a da primeira praça de touros eborense.
 
A ansiedade antecede a entrada no quarto, presa que ainda estou aos comentários dos meus amigos. “O que será que está por detrás desta porta?”. Introduzido o código, abro-a e, alívio, a decoração é exactamente a mesma dos corredores, as madeiras escuras, as paredes brancas e, ao lado do LCD, está um quadro com cavalos na paisagem alentejana. Não há um enorme roupeiro embutido com cofre no seu interior, nem uma secretária que se prolongue por uma parede sem fim, em frente à cama, com um mini-bar por baixo, nem imensas almofadas em cima da cama ou um conjunto de sofás junto à janela. O quarto é pequeno e funcional, não está pensado para grandes estadias, mas para um fim-de-semana de lazer ou para ficar durante um congresso ou uma reunião de trabalho.
 
Cansada, pouso as malas em cima da pequena secretária onde se encontra o telefone e descalço as botas. Espreito a casa-de-banho, funcional e com um chuveiro que, adivinho, terá a pressão ideal para tomar um duche. Vou até à janela. A vista é a do interior de um pátio que, certamente de dia será agradável e fresco quando chegar o Verão quente e seco alentejano. Regresso à secretária onde pousei o smartphone, procuro as definições e introduzo apassword que me foi dada na recepção para ter acesso ao wi-fi grátis e ilimitado.
 
São horas de jantar e o hotel fica mesmo no centro, a pouquíssimos minutos da Praça do Giraldo. O tempo é o das festas e as ruas estão bonitas e iluminadas, as montras gritam Natal e reencontro rostos conhecidos. Quem conhece Évora sabe que se come bem e que existem muitos espaços onde fazê-lo no centro da cidade. Não é preciso pegar no carro, mas aventurar-se pelas ruas de calçada irregular e com nomes curiosos que lembram mitos e histórias antigas.
 
Sentada à mesa, devoro as primeiras entradas e anseio por que venham mais. “Calma… É tudo para degustar com calma, senão não sabe a nada”, recomenda-me o simpático empregado. Sim, ainda estou com o ritmo do trabalho, da cidade, da viagem. Respiro fundo e procuro desligar para degustar, para usufruir, para aproveitar. Consigo. Estou no Alentejo e como gosto das suas migas, da carne que se desfaz na boca, da siricaia e dos frutos secos.
 
O caminho de regresso ao B&B é feito sem pressas e com paragens mais demoradas em frente às montras, com passagem por alguns dos monumentos e das igrejas, tudo fechado àquela hora da noite, mas que apetece rever na manhã seguinte. “Ainda bem que o hotel é tão central”, penso.
 

Um conceito novo

À porta estão alguns curiosos, o hotel acabou de ser inaugurado, por isso, espreitam através das enormes portas de vidro e comentam como o espaço “está bonito”. “Dizem que é barato, mas tem muito bom aspecto”, diz um. “Quando te zangares com a tua mulher vens cá experimentar!”, recomenda outro. “Não, ainda faço melhor, vimos cá dormir os dois uma noite!”, responde o primeiro, fazendo rir o segundo.
 
Sorrio, peço licença e entro. Na recepção solicito um secador de cabelo, inexistente no quarto, agradeço e subo no elevador.
 
Volto a confirmar como o quarto é acolhedor e confortável. Atiro-me para cima da cama, ajeito a almofafa e espreito o folheto que trouxe da recepção. “Seja qual for o motivo da sua visita, irá encontrar um espaço moderno, funcional e elegante com a garantia de uma excelente noite de sono que só um colchão e almofadas super-confortáveis lhe poderão dar”, leio. Sim, a almofada e o colchão são “super-confortáveis”, confirmo, agora só falta certificar a “excelente noite de sono”, penso, antes de adormecer.
 
A manhã acorda luminosa e soalheira. Reconheço que a noite de sono foi “excelente” e que a pressão do chuveiro é tal como imaginei. Pronta para um dia de lazer na cidade. Mas antes, há que tomar o pequeno-almoço que, no B&B é pago à parte com um custo de 4,50 euros para os adultos e 2,80 euros para as crianças. É um pequeno-almoço buffet, do tipo “sirva-se você mesmo”, com diversidade de cereais, pães, bolos, iogurtes; e sumos, chás, leites e cafés que se tiram directamente das máquinas espalhadas pela sala. Cada um agarra no seu tabuleiro e completa-o consoante a sua fome ou gulodice. 
 
Não fossem os pouquinhos graus de temperatura ambiente e o pátio — que na noite anterior se via do alto da janela do quarto — seria o espaço mais apetecível para tomar o pequeno-almoço. Em vez disso, a opção é pela sala de refeições com candeeiros modernos e os quadros com as fotografias dos cavalos e dos cavaleiros da Coudelaria da Ervideira.
 
Enquanto trinco uma fatia de bolo mármore penso como os meus amigos estavam tão enganados. O B&B Évora é um hotel de duas estrelas mas com uma enorme preocupação com o conforto, além de estar muitíssimo bem situado, bem no centro da cidade. É o tal conceito “econochic” de que falava o folheto, concluo antes de me levantar e colocar o tabuleiro num carrinho, bem arrumado. 
 
Já de regresso a Lisboa e ao trabalho, troco mensagens electrónicas com Gisela Barros, directora de vendas e marketing da B&B Hotels, em Portugal, que repete a expressão “econochic”, ou seja, a “venda de um serviço de alojamento” cujas premissas são as do conforto – da cama e do espaço comwi-fi, paredes insonorizadas, ar condicionado, televisão e uma área de trabalho com telefone, resume. 
 
A responsável recusa a ideia que se trate de um hotel “low cost”, mas sim um “hotel económico/budget” – o preço dos quartos é fixo: 37 euros de domingo a quinta ou 42 euros à sexta-feira e ao sábado; se consumir pequeno-almoço ou se estacionar o carro no parque, tem esse custo acrescido. “Vendemos dormidas com conforto”, reforça, acrescentando que os clientes que vão à procura de outros luxos podem ficar com as expectativas defraudadas, mas que a “na sua grande maioria [as dormidas] originam taxas de satisfação altas”. A prova disso é o reconhecimento do TripAdvisor do B&B Porto Centro enquanto um dos melhores 20 hotéis económicos de Portugal (Vencedor do Travellers’ Choice™ 2013), reforça. 
 
O B&B Évora é o segundo hotel que a Endutex Hotéis, um grupo português que começou nos têxteis técnicos mas que tem vindo a diversificar os seus negócios para outras áreas, nomeadamente a da hotelaria, abriu em Portugal. A B&B é uma marca francesa, criada no início da década de 1990, franchisada — ao todo e espalhada pela Europa, esta tem cerca de 300 hotéis, a maioria em França, mas também na Alemanha, Itália, Polónia, República Checa e, pela primeira vez este ano, em Marrocos.
 
Em Portugal, o primeiro hotel abriu no centro da Invicta onde era o antigo cinema Águia D’Ouro, perto do Mercado do Bolhão e da estação de São Bento, em Dezembro de 2011. Dois anos depois, no início de Dezembro, em Évora foi inaugurado o segundo. Em comum têm o facto de terem nascido em locais emblemáticos das cidades, onde houve a preocupação de manter as fachadas — no Porto, a do cinema; em Évora, a muralha da praça de touros. Ficam localizados nos centros históricos de duas cidades que são património da UNESCO.
 
A Endutex Hotéis investiu sete milhões de euros no Porto e quatro milhões no projecto de Évora. A intenção é continuar a crescer e abrir mais três hotéis, com um investimento previsto de 25 milhões de euros. O próximo será construído de raiz em Matosinhos, é o B&B Porto Norte, um projecto da Sonae Capital (empresa do mesmo grupo que o PÚBLICO), com 129 quartos em sete pisos, perto da Exponor, Aeroporto Francisco Sá Carneiro e do Porto de Leixões, além de ter áreas comerciais na zona. 
 
Portanto, há a preocupação de escolher espaços que sejam centrais para quem está de visita às cidades, mas também para quem está de passagem ou em trabalho.
 
“Esta forma de hotelaria económica (que não sacrifique no conforto) é, em nosso entender, uma lacuna em Portugal”, termina Gisela Barros. Já não é, ouviram, amigos?
 
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O Fugas dormiu uma noite no B&B Évora a convite do B&B Hotéis
Actualizada a 04.01.2014
Por Bárbara Wong
Nome B&B Évora
Local Évora, Rua do Raimundo, 99
Telefone 266240340
Website http://www.hotelbb.pt/