Fomos ontem brindados com a revelação de um documento do FMI que propõe um conjunto de medidas que, a serem concretizadas, significariam um retrocesso tal nas condições de vida da maioria dos portugueses que tornaria insuportável a nossa existência.
Desde o aumento da idade de reforma, ao despedimento de dezenas de milhares de trabalhadores da função pública, passando pela redução de salários e pensões e pela morte das funções sociais do estado consignadas na constituição, é vasto o menu que o FMI oferece de bandeja aos seus delegados na governação do país.
As palavras-chave do documento são: despedimentos, diminuição de subsídio de desemprego, de salários, de pensões, a limitação da atribuição de benefícios socias.
Quem faz as propostas sabe que a sua exequibilidade depende da morte da lei fundamental e da aniquilação de toda a resistência popular a medidas tão violentas contra a dignidade de quem vive ou viveu do seu trabalho.
Não consigo vislumbrar qualquer possibilidade de um qualquer governo impor tais medidas, sem recorrer à instauração de uma ditadura, com imposição de recolher obrigatório e eliminação de todas as liberdades, direitos e garantias.
A gravidade do momento exige um enorme sentido de responsabilidade e não permite tempo para calculismos de médio prazo.
Esse sentido de responsabilidade impõe a todos os democratas o levantar a voz pela demissão do governo e a convocação de eleições antecipadas.
Não é tempo de tecer loas à estabilidade política como um valor acima de todos os outros, sabendo que essa estabilidade tem como preço a instabilidade social para a maioria dos portugueses e o regresso a uma sociedade assente num paradigma de miséria.
Não é tempo para por um ar sério de estadista e afirmar que não se pode provocar uma crise política, em nome do interesse nacional, enquanto se zurze no governo em tom de indignação.
O tempo é de provocar a crise política que corra com os comissários do FMI do governo, sem receio de abismos ou buracos negros.
O tempo é de quem está em cima do muro se desvincular de opções e compromissos assumidos e fazer corresponder a prática à retórica.
Não deixa de ser sintomático que perante estas ameaças, alguns se distraiam em fazer julgamentos de moralidade sobre uma senhora que bebeu uns copos a mais no dia do seu aniversário e acabou cometendo um crime de condução em estado de embriaguez, misturando aquele que é um comportamento pessoal penalmente censurável com a sua actividade política.
Para mim, cometeu um crime é punida por ele e a vida continua.
Politicamente não posso, nem quero, julgar a deputada por esse facto. A deputada critico por ter votado ao lado do seu partido as alterações às leis laborais, por se ter abstido na proposta de aumento do salário mínimo ou por se ter abstido violentamente no orçamento de estado para 2012.
Quanto à noite de copos é um problema da senhora, dos órgãos de polícia criminal e dos tribunais.
Até para a semana.