Ministério da Saúde promete bolsa de 750 euros para os clínicos que decidam fazer a formação em hospitais do interior. Médicos dizem que, apesar de bem-vindos, as unidades do Altentejo e Algarve precisam é de especialistas
A bolsa atribuída pelo Ministério da Saúde aos médicos recém-licenciados que queiram completar a sua formação (internato) no interior do País "não irá resolver" o problema da falta de médicos, garantiu ao DN o director clínico do Hospital do Espírito Santo de Évora (HESE), Manuel Carvalho, salientando, no entanto, tratar-se de uma medida "positiva".
"O que nós precisávamos mesmo era de incentivos a especialistas para se fixarem no interior. E o que está aqui em causa são incentivos para a formação de médicos através de hospitais do interior", explica Manuel Carvalho, segundo o qual a bolsa de formação aprovada pelo Governo "não terá impacto a curto prazo".
As bolsas de formação - cujo montante foi fixado pelo Ministério da Saúde em 750 euros - destinam-se a apoiar os profissionais que decidam tirar o internato em hospitais do interior, onde ficarão colocados por períodos entre 5 e 7 anos, o tempo necessário a completarem a formação nas diversas especialidades médicas. Para 2010 foram abertas 180 vagas, 44 das quais relativas a futuros clínicos gerais que serão sobretudo colocados no Alentejo e Algarve.
"Só depois de concluído o tempo de formação é que esta medida começará a produzir efeitos. Isto partindo do princípio que esses médicos se vão manter no interior pois podem sempre optar por não ficar", acrescenta o director clínico do HESE.
No caso do Hospital de Évora, a maior carência de profissionais está ligada às especialidades associadas à qualificação desta unidade de saúde como "hospital central", com a criação de um serviço de urgência polivalente. É o caso da neurocirurgia, cirurgia vascular e anestesia. Ortopedia, ginecologia-obstetrícia e cirurgia geral são outras especialidades onde faltam clínicos.
"Nós precisamos é de especialistas. Não é propriamente de internos. Não é assim que vamos resolver o nosso problema", resume Manuel Carvalho.
O problema da falta de médicos especialistas - com clínica geral e saúde pública à cabeça - afecta a generalidade do interior, Algarve incluído. "Difícil é encontrar uma especialidade onde não exista carência de profissionais", diz a directora clínica do Hospital de Portalegre, Paula Pinheiro, recordando que os hospitais e centros de saúde do interior já têm de recorrer à contratação de profissionais através de "empresas externas" para assegurar o funcionamento das urgências, o que acaba por representar um aumento de custos.
Em Portalegre, há mesmo situação "extremas" em que os doentes têm de ser encaminhados para outro hospital: "Neste momento estamos sem otorrinolaringologista nem dermatologista", diz Paula Pinheiro, considerando que as bolsas de formação podem ser uma "boa ajuda" à fixação de profissionais no interior.
Já o presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fnam), Mário Jorge, considera este incentivo um "passo extremamente importante" que "não pode ser dado isoladamente". Ou seja, para além das questões pecuniárias, Mário Jorge defende a definição de uma política global de incentivos à fixação em zonas mais carenciadas que inclua, por exemplo, a garantia de que os jovens médicos "têm os seus contratos de trabalho assegurados" uma vez concluída a sua formação na especialidade.
in "DN"