A Europol (Serviço Europeu de Polícia, com sede em Haia) alertou, no final de Dezembro de 2010, as autoridades portuguesas e espanholas para a ameaça que constitui a maior utilização de aeronaves ligeiras por parte de organizações criminosas, na Península Ibérica, para traficar armas e droga.
"De Marrocos, as organizações criminosas fazem viagens regulares [com cargas de 50 quilos] que terminam em aeródromos em partes remotas de Espanha [como por exemplo, na Andaluzia ou Múrcia] e Portugal [exemplo: Évora]", lê-se no relatório.
A informação foi confirmada por fontes da GNR contactadas pelo CM. "No último ano foi feito o levantamento de todos os aeródromos legais em território nacional e sabemos quem os controla. Mas há uma enormidade de locais em Portugal onde se pode aterrar uma aeronave de pequenas dimensões", explicou uma fonte. A mesma adiantou que "em algumas investigações foram encontrados rastos de pneus, em zonas remotas, pertencentes a pequenas aeronaves".
Nestes voos são utilizadas aeronaves ligeiras (com o BE 58 Baron, o Piper PA ou até helicópteros), que voam a baixa altitude e mais lentamente para não serem detectados por radares, nem chamarem a atenção. "As mercadorias são entregues por ‘lançamento aéreo’ e aterragens em pistas remotas ou campos agrícolas", refere o relatório. Fonte da GNR indica as zonas do Alentejo e Algarve como "mais propícias para estas práticas, devido às condições do terreno, mais plano".
O último Relatório Anual de Segurança Interna já alertava para o facto de a via aérea não comercial poder "ser utilizada não só para proceder à introdução de haxixe no território nacional, como para efectuar o trânsito para outros países europeus".
JACTOS EXECUTIVOS NO TRÁFICO
A Europol chama ainda a atenção para outro tipo de voos em que são usados jactos executivos (como o Cessna 650 ou o Gulfstream), não só para o tráfico de droga e de armas, como para o tráfico de seres humanos, diamantes e lavagem de dinheiro. Este tipo de aviões é normalmente propriedade de privados que se dedicam ao sector das viagens e fazem trajectos longos.
O Relatório Anual de Segurança Interna de 2009 também apontava o facto de a aviação não comercial ser usada "para proceder ao transporte de quantidades substanciais de cocaína, da América Latina para a Europa, com escala em vários países no continente africano – Cabo Verde, Senegal e Guiné-Bissau". Mas o uso deste tipo de avião implica uma maior sofisticação, uma vez que não tem as características para aterrar em pistas improvisadas e obedece a procedimentos mais específicos.
VOOS RASANTES E A BAIXA VELOCIDADE
Cerca de 20 minutos a voar a baixa altitude e a pouca velocidade é quanto demora uma aeronave ligeira, como BE 58 Baron ou o Piper PA, a passar o estreito de Gibraltar, entre Marrocos e Espanha, segundo refere o relatório da Europol.
Segundo explicou ao CM João Moutinho, professor de Ciências Aeronáuticas no Instituto Superior de Educação e Ciências, uma aeronave que voe "abaixo dos 200 metros" é difícil de detectar por radares primários, "que emitem um sinal rádio para detecção de objectos metálicos".
A baixa velocidade permite "maior manobrabilidade, a emissão de uma temperatura menor e a redução do ruído".