Os atacadores das minhas botas partiram-se. Improvisei um nó que aprendi nos escuteiros, mas não resolve. Preciso de comprar uns atacadores novos rapidamente. Passa poucos das 7 da tarde, estou em Évora no hotel e chove desalmadamente. Penso em voz alta: se vou ao centro histórico sou capaz de encontrar as lojas fechadas, demoro a estacionar, tenho que andar a pé e molho-me. Opto pelo que me parece a melhor solução: ir a um hipermercado, a uma loja grande. Não há Sport Zone em Évora. Também ainda não há um shopping grande, um Fórum, um Dolce Vita, um qualquer-coisa dessas. Hipermercado com ele! Lá a variedade é grande, o estacionamento é fácil e em pouco tempo tenho a situação resolvida.
Começo pelo Modelo. Secção de costura e afins: «atacadores não temos», mas procure ali na Seaside que há de certeza. Lá vou eu para a loja de calçado, umas centenas de metros mais à frente. Entro com olho vivo. Vou directo ao expositor... mas são meias. Junto à caixa de pagamento vejo embalagens de anti-transpirantes e outros produtos de limpeza para calçado. Peço um par de atacadores. «Aqui não vendemos». O quê? Um “hipermercado” de calçado não tem cordões para os sapatos?! «Pois, não temos, não» diz a funcionária com ar mais desconsolado do que eu. Incrível, mas obrigadinho e boa tarde!
Já é noite feita. Trânsito que não pára. Buzinas impacientes no Alentejo de imagem serena. Stresse, tenho fome. Atravesso a estrada. Loja da Fabio Lucci. «Não, não temos». Pingo Doce logo à frente (com um spot publicitário de 1m30 têm que vender atacadores). Directo ao balcão das informações: «Aqui não há, não».
Tento lembrar-me da última vez que comprei atacadores, há mais de um ano, perto de casa. Foi no Intermarché! Espero que não me defraudem. Quando uma pessoa confia nas marcas quer que elas nos sejam úteis. Até agora nenhuma foi. «Onde é o Intermarché?». Sempre em frente, duas rotundas, recta, rotunda, à direita.... Chove ainda mais!
Entro nas galerias da cadeia francesa. Encontro um sapateiro aberto. Tento manter um ar composto e sereno. «Boa noite amigo, tem atacadores?» Sotaque alentejano na resposta. Vagaroso, arrastado, relaxante. Tenho sim, responde o homem. Quase que saía um palavrão de alegria. Da gaveta saem 75 cms de cordão Made In Portugal por uma moeda de euro. Estou safo!
Faça-se justiça: só encontrei o que queria no comércio tradicional. A loja chama-se 7 Chaves e é de José António dos Santos (nome que vem no recibo).
Já nas calmas, entro no supermercado do Inter. Num topo encontro um mostruário carregado de atacadores coloridos e modernos. Não há fome que não dê em fartura! Para a próxima já sei onde vou directamente. Mas tenho que perguntar isto: porque é que é tão difícil encontrar atacadores à venda?
Ah, os atacadores estão curtos! Devia ter comprado maiores, mas já não me apetece voltar lá!
in fimdarua@tsf.pt
Adorei este post, é bom ver a cidade pelos olhos de quem nos visita...